#Dominical Sejamos ímpares

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Algo que digo muito quando me identifico e gosto muito alguém é “fulano é ímpar”. Você já deve saber que chamar alguém de ímpar é explicitar que essa pessoa destaca-se facilmente dentre os demais. Sendo assim, acabei tornando uma prioridade em minha vida conviver apenas com, isso mesmo, pessoas ímpares.

Só com pessoas ímpares o silêncio não é constrangedor. É necessário certa intimidade elevada para que a ausência do verbo não cause desconforto. Mas quando estamos diante daqueles que nos permitem apenas ser, a falta da troca de palavras é algo sem importância. Seja no momento que for.

O contrário, o totalmente oposto, também acontece. Uma pessoa ímpar se sente à vontade para ser ela mesma e soltar o verbo que for necessário na sua frente. Aquele amigue que sabe te dizer da forma e na hora certa que tu estás errado? Já pode chamar de ímpar. E existe uma infinidade de qualidades que pode tornar uma pessoa diferente das outras de forma a nos fazer tê-la como ímpar. No entanto, me peguei pensando em um sentido mais profundo para aplicar essa palavrinha.

Posso afirmar que o ímpar, tal qual o número um, nosso primeiro exemplo de número ímpar, é aquele que não precisa de complemento. Sim, ele se faz único e inteiro por si só. O que me leva a afirmar também que o ímpar é aquele que não sente a necessidade de estar acompanhado. Algo que tenho vivido no momento. E assim me descobri ímpar. E não, não estou me achando especial. Estou apenas afirmando que o fato de me sentir bem sozinho e sem ter qualquer tipo de relação me leva a crer que sou bom sendo um, logo, ímpar.

Seja uma pessoa que eu admiro por ser diferente, ou original, e ter uma boa relação ou uma pessoa que se contenta em ficar solo, que celebremos nossa capacidade de ser e estar ímpar. Que sejamos ímpares.

#dominical – Fora de controle

– Então, o problema é que eu sou virginiano. Acho que tudo se resume a isso. É aí que mora o problema.

– Como assim? Fale mais sobre isso.

– Virginianos precisam ter tudo esquematizado e sob controle. Atualmente quem é que consegue ter controle sob o que quer que seja durante o isolamento social e todas as crises diárias que todos estamos vivendo?

– Você precisa analisar a situação pelo lado positivo e tentar manter a calma sendo otimista.

– Quê? Esse papo de ser otimista enquanto tá tudo um caos não passa de positividade tóxica. A gente tem que se permitir e normalizar se sentir triste, com raiva, frustrado e tals. A verdade é óbvia: ninguém tá bem.

– E a sua ansiedade, como você tem lidado com ela?

– Eu tentei dois aplicativos de meditação. Me irritei porque não consigo me concentrar, fico me achando um idiota por não conseguir dominar meus pensamentos e eles ficarem vagando enquanto eu tô trabalhando a respiração até ficar ofegante e a beira de uma crise de pânico.

– Está conseguindo ao menos se alimentar bem?

– Eu consigo fazer um almocinho leve. Daí na janta eu tô exausto de ter tentado sobreviver ao dia e apelo para o miojo ou delivery. E, juro, estou tentando arduamente não me culpar por isso.

– Ok. Diminuiu o consumo de álcool desde a última vez que nos falamos?

– Tá me zoando? O vinho está 80% mais barato que uma consulta sua. Ele tem sido meu terapeuta de duas a três vezes na semana. Enfim, doutor, eu preciso de uma luz urgente. O que o Senhor me diz? O que posso fazer para tentar diminuir os surtos da quarentena?

– Bem… Que tal, dessa vez, tentarmos um exorcismo?

#dominical – Cerque-se de pessoas ímpares

Texto em homenagem a todas as pessoas ímpares que têm passado por minha vida,
em especial ao meu amigo Carlos Adriano. 💛

Já parou para pensar se as pessoas com quem você troca ideias são ideais? Eu já, e isso me fez rever o quanto é importante ser mais seletivo.

No contato virtual ou pessoal, o tal do filtro sempre existe e nos ajuda ficarmos cercados de pessoas que identificamos como “os nossos”. Tá certo que nem sempre conseguimos identificar aos primeiros sinais quem vem para ficar. Mas, devemos focar em pessoas ímpares. Sabe aquele tipo de pessoa que se destaca por te transmitir algo bom? É esse tipo de gente ao qual me refiro. Algo que parece óbvio em teoria, mas pouco feito em prática por muitos.

Pessoas ímpares não passam despercebidas. Elas iluminam o ambiente por transparecerem sua essência nos pequenos detalhes. São pessoas genuínas e transparentes, que não conseguem ser menos do que são e nem posam como sendo maiores do que sua realidade e relevância. Geralmente sabem o seu próprio valor e lidam bem com críticas e elogios, pois sabem que tudo faz parte do ciclo evolutivo.

Muito além de uma possível boa amizade, uma pessoa ímpar costuma se tornar aos poucos um exemplo, alguém com quem você se identifica e passa a, em algum aspecto, se inspirar. Uma pessoa que te inspira a algo, é uma pessoa que, pelo menos por um tempo, merece sua atenção e valorização para que fique em sua vida. Seja pelo tempo que durar, essa pessoa deixa uma marca pessoal que registra o quão única ela é ou quão única ela foi durante o tempo que conviveu com você.

Temos mania de não seguir a intuição, que é algo que costumo considerar como um sussurro divino, que sempre nos indica o melhor. Pessoas ímpares tendem a nos fazer sentir desde o começo sua significância. São verdadeiros enviados do Universo, ou seja lá o que você acredita, indicando que esses seres estão aí para te influenciar a ser uma pessoa melhor e ser melhor com o mundo.

Sendo assim, cercar-se de pessoas ímpares é sentir-se andando em direção a ser alguém ímpar também e que vai deixar sua melhor marca no próximo e no mundo.

#dominical – Não “mimimize” a dor alheia

Imagem do Instagram @linhasdesampa

Poucos minutos antes de começar a escrever li um post no Instagram que dizia: “mimimi é a dor que não dói na gente”. Isso veio como um tapa na cara e um sentimento de raiva somado a vergonha alheia (preciso dizer de quem?) e uma tristeza que não consigo descrever. A moral é que, infelizmente a gente vive fazendo isso.

Não tô tentando justificar o que aquele que nem vou mencionar falou. Pelo contrário, endosso que ele é o ser mais insensato que já se teve notícias na vida. Mas, quero aqui focar na indelicadeza que cometemos no cotidiano, por vezes sem perceber, ao minimizar o do que o outro reclama, ou apenas desabafa.

Fulana acabou com o namorado e o ciclano diz que ela precisa ficar de boas, relaxar, porque vai passar. A mãe reclama da dor no joelho e o filho manda tomar remédio ou procurar o médico. Criança chama pela mãe chorando e ela, sem pensar duas vezes, lhe estende o smartphone. Viu? A gente vive silenciando a dor do outro e minimizado de alguma forma.

Não, eu não sou aquele que tá aqui pra dizer que é um cara incrível e que faz diferente. Eu, como qualquer um, faço com muita frequência e só percebo depois de feito. O que me anima é que, além de identificar, tenho buscado me corrigir. Se a amiga tá mal pelo boy, lhe dou ouvidos e busco junto dela tentar encontrar um conforto ou apenas estender a mão tal como posso e assim sigo tentando ser melhor nesse aspecto.

Reparando bem, TÁ TODO MUNDO MAL. Só que, como bons brasileiros que somos, a gente acha graça até na desgraça. Então, a gente minimiza pra não encarar com pesar. Mas, se o olhar for mais delicado e minucioso, podemos atenuar um mal grave: a indiferença com a dor alheia.